Dirigido por Paul Greengrass
Não sou fã da trilogia Bourne nem de nenhum outro trabalho do diretor, exceto por Vôo 93 que é um dos filmes mais tensos e desconcertantes que já vi.
Nesse 22 de Julho ele não entrega um trabalho tão visceral como no filme anterior, com o um tema parecido por sinal. Mas ainda assim é efetivo em informar e gerar debate. O outro filme sobre o mesmo caso ocorrido na Noruega em 2012, Utoya, também desse ano, é bem melhor do que esse. São propostas diferentes mas como peça cinematográfica o segundo funciona bem melhor.
O ataque recriado no início do filme, por menos inspirado e bem explorado que seja, não é um mal trabalho, até pelo fato de causar um certo desconforto no público mais pelo fato em si. É sempre incomodo assistir cenas de atentados em filmes, especialmente quando foram casos reais.
A partir disso, vamos acompanhando os reflexos desse caso na vida de diversas pessoas envolvidas. Focamos na recuperação, física e emocional, de uma das vítimas do terrorista e como isso se reflete em sua família. Em contraponto e com menos destaque temos um estudo sobre o extremista de direita que causou tudo isso e seu julgamento e pinceladas em como tudo isso afeta também a vida de seu advogado de defesa e do primeiro ministro norueguês. Parece muito. E é. Mas é bem organizado.
A montagem do filme é bem interessante e nunca deixa a bola cair em nenhum dos plots. A forma como o roteiro do filme explora as consequências, tanto no micro quanto no macro, e vice versa, é muito cuidadosa. Temos esse entendimento muito fácil sobre um fato gerar outro, que gera outro e assim por diante. É cíclico. A violência, principalmente com essas motivações, acaba gerando mais violência em caminhos que nunca poderíamos imaginar. Em determinado momento a família do advogado de defesa do assassino é ameaçada justamente por ele estar defendendo o indefensável. Nos pega desprevenido.
Existem algumas facilitações de roteiro muito óbvias e clichês. Jogar flashback com efeitos sonoros da vítima para tentar causar algum tipo de escancaramento do que o personagem está pensando, em 2018, é tão desnecessário que incomoda. Assim como o fato do filme ser todo interpretado por atores noruegueses mas a língua falada o filme inteiro é o inglês. Isso é algo que me afasta imediatamente de qualquer aproximação realista da situação. Sense8 tá aí e não me deixa mentir. Americano tem que acabar com essa preguiça de ler legenda se quer produzir filmes com qualidade narrativa, pelo amor de deus!
Um filme competente, que bota a gente pra pensar e querer discutir, tanto sobre controle e facilidade do porte de armas quanto ideais da direita extremista, e como esses dois fatos se relacionam. Um caso triste e terrível na história da Noruega que, infelizmente, serve de exemplo para os mais esclarecidos e sensatos. Agora pelo menos temos dois filmes sobre para todos assistirem e botarem a mão na consciência.
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