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🇺🇸 Once Upon a Time...in Hollywood (2019) 🌕🌕🌕🌕

Foto do escritor: Bruno SantiagoBruno Santiago

Dirigido por Quentin Tarantino


Em seu nono, e penúltimo (?) filme, Tarantino se mostra mais a vontade e com uma maior maturidade. Parece que ele segurou seus instintos cinematográficos e entregou uma obra mais contida e contemplativa. Não é o seu melhor trabalho mas esta longe de ser o pior. Até porque, mesmo o seu pior filme consegue ser ótimo. A idéia do "menos é mais" caiu como uma luva aqui.


Apesar dos inúmeros truques narrativos e técnicos, desde travelling shots ousadas à planos sequências bem orquestrados e o exacerbado, mas nunca exagerado, uso da metalinguagem, é um filme mais calmo e silencioso. Os longos diálogos cheios de energia que são marca registrada do diretor, aqui foram substituídos por diversas cenas de ações cotidianas, como um personagem dirigindo, em uma montagem paciente, enquanto as músicas no rádio do carro vão mudando conforme o personagem cruza a cidade. É uma maneira mais calada de nos colocar dentro daquele universo. Inclusive através do enorme apreço aos detalhes do design de produção na reprodução de época e também das diversas formas que Tarantino busca inovar na forma de contar a história é que nos sentimos absolutamente imersos naquele mundinho particular de Hollywood do final dos anos 60. Mas não se engane, os diálogos divertidíssimos existem. Só que em menor escala.


Em em determinada cena nós assistimos a filmagem de um faroeste através da câmera do que seria o filme. É o filme dentro do filme. Até que a quebra da "falsa quarta parede" acontece quando o protagonista esquece a fala e ouvimos atrás da câmera alguém o ajudar. Por breves minutos esquecemos que estávamos assistindo outra história. Em outra cena, os dois personagens principais assistem TV e comentam sobre o que estão assistindo, mas a câmera fica única e exclusivamente fechada na TV, enquanto escutamos os comentários em off. Isso nos coloca ali, naquela sala, junto com os dois. Sacadas de um gênio moderno que entende muito de cinema e tem o domínio absoluto para fazer isso. Metalinguagem dentro de metalinguagem não é para qualquer um.


Mas o grande destaque mesmo do filme são os dois atores principais, Leonardo DiCaprio e Brad Pitt. Dois dos maiores galãs de Hollywood provam que são dois dos maiores talentos também. DiCaprio faz o que pra mim é o melhor papel de sua carreira. A maneira como ele incorpora maneirismos para o personagem é de uma naturalidade incrível. Seu personagem tem uma leve gagueira, que transparece ainda mais quando ele fica mais nervoso. O ator some e entra o personagem, que curiosamente é um ator em decadência. Brilhante! Já Brad Pitt faz o oposto com um cara extremamente relaxado e de boa com a vida, que possui um passado macabro, que nunca é comprovado de fato. O que sabemos é que o cara é um muro e que sabe cair na porrada melhor que o Bruce Lee, literalmente. E também com tamanha naturalidade que esquecemos quem é Brad Pitt e só enxergamos Cliff Booth. Dois trabalhos que precisam ser reconhecidos na época das premiações.


Margot Robbie é um caso a parte. Sabemos que a atriz é ótima e nesse filme ela possui uma cena em que sem dizer uma palavra consegue emocionar o público. Mas ainda assim, ela serve como uma coadjuvante para amarrar as duas histórias e dar sentido ao desfecho do filme. E que desfecho. Se passamos as duas horas e meia sem a voracidade de Tarantino, nos 15 minutos finais ele mostra todo seu lado sádico satírico que tanto amamos. Um final apoteótico, cheio de sangue, e que em sua última cena consegue novamente emocionar, por toda a construção da personagem de Sharon Tate e a idéia do "e se..." dando finalmente sentido ao título do filme.


Vale ressaltar também toda a sequência que se passa no rancho da família Manson. É um mini filme de terror/suspense dentro desse drama/comédia. Melhor cena do filme! Tarantino é apaixonado pelo gênero do horror, e já deu entrevista recente de que se tiver uma ótima idéia, quem sabe seu próximo e último filme pode ser um terror. Bom, ele deu essa pequena amostra aqui de que sabe construir tensão pura através de expectativa de forma magistral. Sem contar a trilha sonora diegética que conduz a sequência, a partir do filme que a personagem da Dakota Fanning esta assistindo na TV. Só imagino um filme de 2h30 de terror do Tarantino. Um sonho!


No final, apesar de possuir uma barriguinha aqui e outra ali no roteiro, o filme enche os olhos e nos transporta para aquele universo muito específico que Tarantino continua sabendo criar muito bem. O que fica é que ele é talvez o melhor diretor de atores da atualidade. Além dos 3 com destaque maior, o filme é recheado de aparições estrelares, e todas inspiradíssimas. Alguns atores que nunca daríamos nada estão brilhando. O cara sabe como extrair o melhor de cada um.


Once Upon a Time...in Hollywood é um conto de fadas tarantinesco, que quando os créditos sobem, não consegui deixar de pensar que toda a concepção dessa história deve ter saído a partir de um simples questionamento:


LEVE SPOILER A SEGUIR.


E se a família Manson tivesse atacado a casa vizinha de Sharon Tate? E assim surgiram Rick Dalton e Cliff Booth.



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