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🇺🇸 Glass (2019) 🌕🌕🌕

Foto do escritor: Bruno SantiagoBruno Santiago

Dirigido por M. Night Shyamalan


Vidro poderia ter fechado essa trilogia criada por M.Night de forma magistral. Mas parece que sempre que sob pressão, o diretor se perde e entrega filmes, de medianos a ruins. Uma pena.


Corpo Fechado é excelente. O segundo filme de sua carreira possui uma atmosfera perfeita e constrói uma visão humana do conceito de super-herói. Depois de anos, passando por altos e baixos, Shyamalan entregou Fragmentado, um filme que quase faz jus ao primeiro da trilogia. Com o mesmo clima, Split tem uma das melhores atuações de 2017 (injustiçada inclusive). Daí ele, na pressa, resolve concluir essa história. Parece que se empolgou com a recepção dos fãs ao seu universo compartilhado, e resolveu fazer o desfecho o mais rápido possível. Se o diretor tivesse esperado pelo menos mais uns 2 anos, tenho fé de que criaria algo mais lapidado.


O lado bom é que M.Night Shyamalan é um excelente diretor. A técnica é impecável e aqui ele esbanja estilo com planos e movimentos inspiradíssimos. É realmente lindo de ver. E foi o que salvou o filme de ser uma catástrofe completa. Sua maneira de conduzir as cenas causa uma tensão que vai crescendo do início ao fim. Independente dos defeitos de roteiro, a gente se pega investido naquele mundinho. A combinação com a ótima trilha sonora só ajuda. No ato final, o mais fraco, a trilha brilha e comecei a lutar comigo mesmo, pois estava tenso e não queria piscar, ao mesmo tempo que a cada momento um problema de narrativa surgia.


Divido em três atos, o primeiro é o que melhor funciona. Parece que dá um gostinho do que está por vir. Tenso e inventivo, o filme joga suas expectativas lá no alto. Ai vem o segundo ato que é um banho de água fria, mas daqueles refrescantes. Pois não é o que esperávamos mas ainda assim agrada pela quebra do óbvio. No final dessa segunda parte o filme te induz a crer que o terceiro ato vai ser apoteótico, mas ele arrega e, literalmente, não consegue sair do lugar. Como toda a ação do ato final é extremamente meticulosa tecnicamente a gente fica entretido, mas a história se perde na incoerência de resoluções, na excessiva exposição de diálogos explicativos e em três plot twists.


O primeiro twist segue bem o que o diretor sempre fez ao longo de sua carreira. O problema começa na segunda virada que cai de paraquedas e nos deixa com um ponto de interrogação na testa. Sem contar que ela é extremamente furada se formos aprofundar mais o pensamento, coisa que só conseguimos fazer no final da sessão, pois durante, a coisa é tão bem feita visualmente, que a gente se distrai. Daí vem a terceira virada que só funcionou, particularmente, pelo "fan service". Se você não liga para esse mundo desconstruído de super-heróis que Shyamalan criou, você realmente vai achar tudo muito piegas. O fato de chamar todos os atores dos filmes anteriores, inclusive os papéis secundários, foi um acerto. Todos estão muito bem e ajudam na crença de que aquilo é real. O tom realista do filme junto com essa linguagem bem cuidada sempre quebra os enormes defeitos desse roteiro complicado.


Outro grande problema, além dos enormes buracos narrativos, é o desleixo com o personagem de Bruce Willis. Quando temos dois vilões e um herói no centro do filme, esperamos que o desenvolvimento deles será equilibrado. David Dunn é o herói e simplesmente é esquecido pelo roteiro. Aparece muito pouco e quase nada tem a acrescentar além do que conhecemos em Unbreakable. Sua relação com o filho e alguns flashbacks (sabiamente feitos com cenas deletadas do filme de 2000) são a melhor coisa, e mesmo assim deixa a desejar. Aquela coisa que emociona mas você sabe que não é muito bom.


Na segunda parte o destaque maior fica para James McAvoy e suas 24 personalidades. O truque de mudar de personagem com uma luz que pisca (apesar de furadíssimo) é divertido no início. Mas depois percebemos que é raso e não traz nada de novo após termos visto isso em Fragmentado. O ator se diverte e praticamente é o grande destaque do filme inteiro. Mas é só para isso mesmo que o personagem está ali. É só uma maneira que Shyamalan encontrou de distrair a falta de conteúdo do recheio dessa história. Mas nada de Bruce Willis a partir disso até o final. Isso só reforça o quão inútil o personagem se tornou para o desfecho da trilogia, o que é um erro gravíssimo. Ele não apresenta nenhum resquício de que, de fato, seja um herói. O final do seu arco reforça isso quase como uma auto sabotagem do diretor. É risível e dá pena. O único personagem que sentimos que realmente evoluiu e entregou um arco realmente conciso é o de Samuel L. Jackson, fazendo jus ao título do filme, mesmo que ele só ganhe força no final.


Com momentos lindos de direção e excelentes idéias, quase todas com grandes furos que incomodam, Glass decepciona demais na sua concepção apressada. Mas de um jeito quase mágico, M. Night Shyamalan sabe como distrair sua platéia com seus truques sensoriais e visuais. Ótima direção com um roteiro fraquíssimo que parece que não passou de uma segunda revisão.




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