Dirigido por Andy Muschietti
Apesar de me encontrar em uma posição complicada para falar desse filme, pois a obra original de Stephen King é meu livro preferido, devo reconhecer as diversas falhas dessa conclusão da segunda adaptação audiovisual dessa história. It parte 2 é um filme cheio de altos e baixos que no final acaba agradando mais a quem é fã, tanto do livro quanto do filme anterior. Ou seja, quem esta investido nessa história.
O principal problema dessa continuação é seu ritmo. O primeiro ato entra super forte com uma cena de abertura icônica e pesada, dando a entender logo de cara que o filme vai ser mais intenso e sangrento que o primeiro. Depois vemos a apresentação dos personagens e o que se tornaram. Um prato cheio pra quem já conhecia a história, brilhantemente conduzida. Os atores já começam mostrando o show que vão dar, sem contar que o filme consegue esbanjar toda a perfeição no quesito casting. Não poderiam ter sido mais precisos na escolha de atores para interpretar a fase adulta das crianças. É impressionante o quão parecidos eles são com suas versões mirins. Não só fisicamente como os maneirismos que pegam emprestados dos atores mais jovens. Todos merecem a devida atenção. Depois seguimos para o reencontro do Clube dos Perdedores no restaurante chinês e o filme nos anima mais ainda, elevando nossa empolgação para o que esta por vir nas próximas duas longas horas.
É aí que começam os problemas. E não no sentido da história em si. A adaptação desse enorme livro de mais de 1000 páginas beira a perfeição. Souberam minuciosamente o que colocar e o que não colocar no filme, o que funciona no livro e o que não funciona na tela. As breves menções em forma de easter eggs à questões que não ficariam tão bem no cinema servem com uma carta de amor aos fãs originais.
O problema é que quando entramos no eterno segundo ato, o filme perde totalmente o ritmo. Seguimos de personagem em personagem, com seus sustos individuais e flashbacks dos seus pares crianças. É muito gostoso ver o elenco infantil de volta (mesmo que o CGI de rejuvenescimento pesado na cara de alguns fique escancarado) complementando a excelência do elenco como um todo. O problema é que nem todas as cenas funcionam. Algumas enrolam demais para não entregar nada visualmente expressivo. Outras são muito bem ambientadas e trazem momentos marcantes para essa "franquia". Só que toda essa parte é muito blocada, as histórias não se intercalam e isso traz uma certa morosidade ao filme. São sequências de 10 minutos, mais ou menos, de cada um dos losers, em fila indiana. Sem contar que sentimos muito a falta de entender mais quem são aquelas pessoas na vida adulta, o que se tornaram de fato e todas as suas motivações. Isso ficou em breves menções na primeira parte. Depois deixam de lado. Se o filme soubesse casar melhor todas essas informações, não quase nos perderia no segundo ato.
Digo quase pois o terceiro ato entra como um furacão e traz o filme de volta pra cima, provando que o terror por terror (nem sempre tão inspirado) não foi satisfatório. Na terceira parte surgem um amontoado de cenas impactantes e eletrizantes que nos deixa na ponta da cadeira. As interações entre os personagens ganham mais espaço e o apego vem mais forte para o público. Até chegar na conclusão final que emociona muito a quem resistiu todos esses baixos que o filme teve durante quase uma hora de duração.
Outros dois fatores que contribuem para o filme não conseguir atingir o que poderia ter sido são o uso pesado de CGI, que muitas vezes se mostra simplesmente desnecessário e outras perfeitamente substituível por efeitos práticos. Não é o melhor uso de computação gráfica que você vai ver no cinema esse ano, digamos assim. Pesaram a mão demais. E o outro ponto negativo é a empolgação do diretor com o fator cômico. No primeiro filme isso é fluido e orgânico com a própria história. Não precisaram apelar para piadas muito escancaradas e fora de hora, muito menos "efeitos sonoros". Sem spoilers, mas existe uma escolha musical rápida que entra em um momento de terror que simplesmente não desce e no máximo gera uma risada de desconforto. A mesma piada foi feita no primeiro filme, com o mesmo personagem, sem apelar para o humor óbvio, e funcionou muito melhor. Parece o tiozão que não sabe a hora de terminar a piada.
Como disse antes, o elenco chama muito a atenção. Mas é Bill Hader que rouba a cena e chama o filme de seu. Richie Tozier é o melhor personagem nessa segunda parte e o que apresenta o arco mais relevante de todos. Se prepare para chorar com o final e as reviravoltas do comediante. O gaguinho mais fofo do cinema, Bill Denbrough, dessa vez interpretado por James McAvoy também tem uma resolução muito satisfatória e uma boa interpretação que vai além do que se percebe numa primeira camada. Jessica Chastain é uma excelente atriz mas não chama tanta atenção assim, o que é decepcionante pois Beverly Marsh é uma personagem bastante relevante, ainda mais em época de #MeToo. James Ransone (Eddie Kaspbrak, o hipocondríaco e o meu preferido) também tem um bom tempo de tela e mostra a que veio, apesar de continuar achando a interpretação de Jack Dylan Glazer como Eddie mais jovem, mas confortável e convincente. Ransone usa muitas caras e bocas as vezes. Jay Ryan, como o ex gordinho Ben Hanscom, tem uma concepção de persona muito boa, mas pouco explorada, apesar de ter protagonizado, junto com Chastain, a melhor cena do filme talvez. Mas é Isaiah Mustafa, que parece ter um certo protagonismo no inicio, que novamente puxa o personagem de Mike Hanlon para escanteio e fica apagado por muito tempo. Andy Bean é o ator que mais se assemelha fisicamente à Wyatt Oleff, o Stanley Uris. Oleff inclusive teve mais tempo de tela do que na primeira parte e reafirmou que sabe atuar muito bem. E claro, Bill Skarsgard quebra tudo novamente como Pennywise. Uma atuação que merece ser lembrada por muitos anos.
Enfim, pesaram a mão em três pontos, talvez pela empolgação com o orçamento muito maior, que combinados com o excesso de jump scares (somente 1 dos 80 sustos facilmente psicografados realmente funcionou comigo) trazem o filme para baixo. Mas ainda assim It Chapter Two é um projeto super ambicioso, que apesar de achar que seria melhor terem feito uma miniserie com uns 6 ou 8 episódios (tipo a versão de 1990) consegue entreter, divertir, emocionar, enervar e deixar um sorrisão estampado no rosto ao final dessa saga. Mas se tiver que escolher um preferido, fico com o primeiro. Menos é mais, meio que sempre.
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