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🇺🇸 Midsommar (2019) 🌕🌕🌕🌕🌕

Foto do escritor: Bruno SantiagoBruno Santiago

Dirigido por Ari Aster


Fiquei tão imerso desde os minutos iniciais de Midsommar que começo a acreditar que Ari Aster é mágico e consegue lançar um feitiço poderoso sob o telespectador que compra suas histórias. Mais um filmaço pra conta do diretor.


Com inspirações claras em The Wicker Man (um dos meus filmes preferidos da vida), a comparação não é das melhores a serem feitas. Primeiro que o filme da década de 70 já carrega um status de clássico nas costas e segundo que ele não tinha maiores intenções em possuir grandes reflexões ou backgrounds mais complexos para seus personagens. A proposta era outra, completamente diferente. Aqui, Aster traz a ideia base de um "culto do mal" e adiciona camadas que falam desde relacionamentos desgastados até traumas familiares. Ele vai fundo nesse estudo de comportamento e nos mostra que não necessariamente temos um vilão e uma mocinha. A situação não é tão "preto no branco" assim. E o filme não te poupa de nada. É tudo muito intenso!


A trilha sonora ajuda muito nessa sensação incomoda que paira o ar durante as 2h30 de filme. A música varia entre melodias com uma aura celestial que deveriam acalmar a alma (mas passam longe disso), e uma falta de apego a estruturas musicais comuns. Rola uma desconstrução musical ao longo do filme, que segue paralelamente a desconstrução do roteiro.


Apesar de não haver grandes surpresas ou viradas aqui, o filme consegue chocar a cada minuto que passa. É tudo muito didático e psicografado. Você sabe mais ou menos o que vai acontecer, mas sempre se mantém com um pé atrás. Nunca sabemos como as coisas vão se dar. E quando elas vem, é um impacto muito forte. A riqueza de detalhes que o roteiro nos fornece, para alguns (ou muitos) soa como grandes barrigas narrativas, ou seja, cenas descartáveis. Porém todos esses aspectos minuciosos só ajudam a você comprar a ideia de que aquilo tudo é real, tudo é paupável. O sistema de como aquela comunidade existe e funciona é perfeitamente crível a partir do momento que você entender cada especificidade de cada ritual, ou pelo menos quando sabemos por alto que determinadas crenças existem, mesmo que não surjam os porquês. É realmente uma aula de "world building". E claro, a maneira como ele mostra o gore (bem menos "fantástico" do que em Hereditário) que nos faz arrepiar. É tudo muito cru, sem grandes efeitos sonoros, sem espetacularização. São mortes sujas e realistas demais para alguém não fazer no mínimo uma careta de desconforto.


Já a direção nos joga o tempo todo num mundo claustrofóbico mesmo que o filme se passe 95% de dia e em áreas abertas. A premissa básica de trazer o medo mesmo com a luz do sol funciona. E não é o medo de sustos fáceis ou fantasmas que vão te deixar olhando para os lados após a sessão terminar. É muito mais a noção de desconforto, de entender a psique humana e suas formas mais perturbadas de funcionamento. E Aster joga nessa salada movimentos de câmera super inventivos combinados com uma fotografia lindíssima. E a pitada final fica por conta do elenco super a vontade e com uma química invejável. Mas é Florence Pugh que choca com uma atuação forte de uma mulher completamente machucada, sem ninguém para se apoiar e ainda jogada em uma situação extrema. É muita intensidade para uma pessoa só aguentar.


Com uma cena inicial que por si só já daria um excelente curta, Midsommar nos puxa para um mundo alucinadamente terrível. Se você ficou se sentindo mal nos primeiros 15 minutos, se prepare porque daí para frente é só ladeira abaixo. Infelizmente a falta de apego a concepções básicas do gênero do horror e a lentidão e calma da narrativa vão afastar o público maior. Mas tentem dar uma chance ao filme. A experiência é incomoda (no melhor dos sentidos) porém válida.



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