Dirigido por Panos Cosmatos
Era um dos que mais estava ansioso para ver no ano. Esperei sair nos cinemas no Brasil mas nunca aconteceu, infelizmente. Essa experiência no cinema deve ser incrível. Basicamente são dois filmes em um, literalmente cada um com 1 hora de duração. A idéia é que se complementem. Isso é uma quase verdade.
A primeira parte de Mandy vem no clima slow burn ao máximo. Assim como no primeiro filme do diretor, Beyond The Black Rainbow, o filme usa e abusa da lentidão estilizada. Em seu filme de estréia ficou sendo lento por lento mesmo e o tiro saiu pela culatra, com um filme extremamente tedioso. Em Mandy ele consegue balancear muito melhor isso em sua primeira metade, ainda que existam momentos em que o diretor não consegue segurar sua prepotência e acaba passando um pouco do limite. Se você estiver com muito sono, não assista. Essa primeira hora de filme vai surtir um efeito sonífero pesado. Mas entenda como "a calmaria antes da tempestade". A forma de contar essa história de vingança é válida, só foge um pouco do controle quando tenta dar um ar contemplativo demais.
Em uma viagem lisérgica coloridíssima gratuitamente (no melhor sentido aqui) somos apresentados aos personagens do filme. E muito bem apresentados por sinal. Todos eles são explorados com cautela, exceto pelo protagonista, que entra chutando a porta mais para a frente. A primeira parte é da mocinha que dá título ao filme e do grupo de vilões. Esses personagens são o que Rob Zombie tenta criar em seus filmes, só que feito com bom gosto e elegância. Eles formam uma espécie de culto religioso sob o efeito - literalmente - de LSD. O líder, um ex músico frustrado por não entenderem sua arte, se tornou um homem completamente fora da realidade, que acha que fala com Deus e tem seus idéias super destorcidos. Por esse passado na música e o fato de comandar um culto assassino, não temos com fugir da referência mental de Charles Manson. As inspiração são claras.
Quando esses dois universos, o da estranha e enigmática Mandy e do grupo de assassinos drogados se encontra e se resolve ali mesmo, é que começa o caos. E aí que entra Nicolas Cage. Em seu modo fúria insana nível 10, que só ele sabe fazer. É aquilo que passa do ponto mas é perfeitamente atuado ao mesmo tempo. Uma cena específica que marca a transição do filme, mostra o protagonista tendo um surto de raiva, tristeza e frustração dentro de um banheiro todo amarelo, só de cueca, entornando uma garrafa de álcool, gritando e chorando. Desse nível de intensidade. E a câmera filma isso em total sintonia pois parece não saber os movimentos que faz, o que acompanha a perda de consciência de Cage. É a melhor cena do filme.
Daí em diante entra a arte, perfeita e sem falhas, do filme. É tudo lindo de se ver, a sublime simbiose de técnica e narrativa. Gore para os fãs em excesso. Vermelhos e azuis vibrantes - Suspiria, alguém? - que entram e saem dos planos, cheios de flair de luzes que vem do nada. A trilha sonora emblemática e com muita potência, ao mesmo tempo inspirada nos anos 80, tendo uma pedida mais heavy metal, tudo no seu devido lugar. Nicolas Cage usando LSD e entrando numa piração louca quando luta com seres que parecem mais os cenobitas de Hellraiser. Tem até uma homenagem a O Massacre da Serra-Elétrica 2, com uma luta de serras elétricas! E acredite, tem muito mais. Enfim, um deleite visual.
Mandy quase nos perde em sua primeira parte, que em momentos chega a decepcionar os que estão sedentos pela loucura que o trailer promete. Mas quando estamos quase desistindo, entra o show principal e QUE SHOW. O filme vai de uma nota 2 à uma nota 10 num piscar de olhos. É justamente essa primeira hora de filme que faz a nota ser mais baixa, apesar do dedo coçar para dar logo 5 luas pela caos impecavelmente sujo. Mas temos que botar os pés no chão e enxergar como um todo.
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