Dirigido por Mike Flanagan
Pegaram um conceito que já era muito legal nos anos 60, quando fizeram a primeira versão dessa história pro cinema e depois nos anos 90 quando fizeram o remake, esse não tão bom assim mas com seu valor, e mudaram quase tudo. De semelhança só os nomes dos personagens, a casa e a idéia de que é uma mansão com diversas camadas de assombrações. Um diálogo ou outro segue a risca os “originais” mas no geral, até as relações e personalidades dos personagens mudaram. E que acerto. A forma como criaram um novo plot totalmente diferente traz muito a dizer se formos considerar que é uma serie de 10 episódios. A mudança era realmente necessária para esse formato. Mas não se engane achando que é uma serie única e exclusivamente de terror, pois não é. Diferente das versões para cinema e possivelmente o livro que deu origem à tudo (não li), temos um lado muito mais emotivo e acolhedor aqui. Todas as relações dos irmãos e os pais são muito bem exploradas, seja entre eles ou com personagens secundários no futuro. De fato o maior acerto da serie é a construção dessas pessoas. Cheios de camadas e complexidades, assim como a gente. É fácil se relacionar com algum deles, ou até mesmo com todos. E o desenvolver das suas histórias inacabadas é algo memorável. Não tem pontas soltas. É tudo muito amarradinho e muito humano também. São muitos os momentos em que conseguimos nos emocionar de verdade. Você passa toda a serie querendo que não acabe o episódio, querendo mais daquelas pessoas despedaçadas por um trauma forte em suas vidas. E é um trabalho minucioso como tudo está interligado e como eles voltam e algumas cenas as vezes sob uma nova perspectiva. Chega dar orgulho. Um dos pontos mais legais também é como o diretor brinca com emoção e medo. As vezes, em uma cena, temos um momento terno e afetuoso para de repente entrar uma elemento de puro terror ou um belo de um susto. Aliás, aqui os jump scares funcionam quase sempre. São espertos e te pegam de surpresa de verdade, o que deveria ser um pré requisito para quando querem enfiar goela abaixo esse tipo de recurso batido. Um em especial é arrepiante. O lado do terror de A Maldição da Residência Hill é muito criativo. Mike Flanagan sabe dirigir essas cenas com uma técnica e uma sensibilidade invejável. Parece que ele sabe o que dá medo e o que não dá. Muitas vezes ele não apela para o susto fácil e simplesmente mostra determinada aparição sem música alta. Isso assusta bem mais. Uma cena em especial envolvendo um homem que flutua que, meu deus! Sem contar os fantasmas escondidos colocados em último plano, que quando enxergamos (muitas vezes passa desapercebido) dá vontade de virar o rosto de medo. Causa desconforto e o coração acelera. Assim que tem que ser! Mike Flanagan é um nome a se ficar atento. Atente para o episódio 6, que fica passando a bola entre uns seis planos sequência, mesclando presente e passado, que completam todos os 50 minutos do episódio. Merece um prêmio por episódio isolado. De aplaudir de pé. As atuações são irregulares. Algumas são ótimas em alguns momentos e em outros nem tanto. Outras são ruins em determinadas cenas e depois melhoram. Mas nenhuma que mereça destaque por completo. Isso dos adultos. Porque as crianças são todas melhores do que todo o elenco mais velho. Elas roubam a cena, fato. Luke é uma das crianças mais adoráveis que já vimos depois de Jacob Tremblay. Tecnicamente The Haunting of Hill House é impecável, com algumas bolas foras em interpretações, uma trilha sonora inspirada e um roteiro muito forte que entrega um final com um plot twist pé no chão, surpreendente e bastante emocionante.
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