Dirigido por Steven Soderbergh
Unsane é daqueles filmes que te pega de surpresa até na técnica usada para filmar. Foi todo filmado com um iPhone 7 Plus, por um diretor com um alto status. O roteiro também é daqueles que surpreende a cada virada.
Steven Soderbergh adora ser experimental de vez em quando, mas sua assinatura é sempre muito nítida e esclarecida. Os movimentos de câmera e enquadramentos que ele usa são notáveis tanto nas suas grandes produções como Onze Homens e Um Segredo e o recente Logan Lucky quanto em seus outros trabalhos experimentais como Bubble de 2005. Aqui ele faz de novo mesmo filmando com um celular. Aliás esse é um dos grandes trunfos do filme. A fotografia pode parecer amadora para alguns mas vai de encontro com a própria história. Existe uma veracidade e um olhar voyeur durante toda a projeção devido aos posicionamentos, nada convencionais, de câmera, justamente por ser um iPhone. Fica fácil brincar com ângulos diferentes.
A história poderia ser bem "clichezona", pois seguimos uma mulher que é internada contra sua vontade em um hospital para doentes mentais pois tem a suspeita de que está sendo perseguida por um homem. Basicamente o filme, até sua metade, pode seguir por dois caminhos, ou A ou B. Esperamos a todo momento que essa decisão vai vir no final em forma de plot twist e muita encheção de linguiça vai acontecer no meio disso. Mas não. A partir da segunda parte o filme escolhe um caminho de maneira super fluida e o segue até o final, com pequenas viradas espertas que só ajudam a incrementar a história. A forma como o roteiro explora as possibilidades, ou não, de ilusão e verdade, é eficaz dentro do seu próprio contexto. Passamos o filme inteiro em dúvida sobre o que pode e o que não pode ser. E a cada minuto que se passa e alguma revelação é feita, continuamos a nos questionar sobre novas questões conforme camada por camada é retirada. E não é só a segunda parte intensa que funciona. O primeiro ato é enervante pois custamos a acreditar na falta de sanidade da protagonista e nos sentimos igualmente injustiçados. É daqueles que dá agonia de assistir com o tanto de descrença que todos do hospital possuem com ela. Claro que algumas questões são simplesmente facilitações de roteiro e fogem um pouco do clima real que o filme entrega.
Claire Foy me conquistou nesse filme. Ainda não assisti a The Crown mas aqui percebe-se uma incrível capacidade de se entregar a personagens diferentes e de mergulhar de cabeça em todas as suas emoções e camadas. Camadas essas que estão presentes tanto na personalidade da protagonista quanto em cada um dos personagens que a cercam e até mesmo na história. Não existe só a trama central como também outros enredos que servem até como crítica ao sistema privado de saúde americano. Isso só ajuda a fermentar esse filme tão rico em subtextos.
Unsane é dinâmico e inteligentíssimo em conduzir o público junto com a personagem central nessa loucura que fica cada vez mais sombria e realista, muito por causa do tom quase documental que o diretor optou por trazer para a fotografia do filme. Um roteiro que revela suas intenções com uma história simples porém contada aos poucos, o que gera o interesse necessário. A cena final ainda por cima cria um sentimento dúbio sobre o que assistimos até então, sem contar que é muito bonita e traz um pouco da estética dos anos 70.
Um filme em total harmonia que deveria ter saído por aqui nos cinemas e ter tido mais reconhecimento. Mas por outro lado, talvez seja melhor ter uma visibilidade mais tímida e manter seu status cult, pois essa é a cara do filme mesmo.
OBS: O trailer foi muito esperto em montar uma história que não é exatamente do jeito que acontece no filme. A surpresa vem desde o início. Por mais trailers que enganem o público desse jeito.
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