Dirigido por Dan Gilroy
Sabe quando você esta morrendo de vontade de dar um grito bem alto mas não pode ou não consegue por algum motivo? É meio que isso que senti assistindo a Velvet Buzzsaw. O filme quase chega lá o tempo todo. Fica na ponta da língua, mas não sai.
O diretor de O Abutro entrega mais um filme que faz crítica ao entretenimento. Aqui ele usa da arte como contraponto e questiona o tempo todo essa barreira tênue que existe entre esses dois pólos. A discussão começa tímida, em alguns diálogos mais ácidos e satíricos e vai entrando numa forma mais robusta até ficar escancarada. Não tem nem como dizer que seria melhor mais sutileza pois definitivamente não é a proposta de Dan Gilroy. Então abraçamos a causa e tentamos curtir a jornada. Expandindo a discussão nesse mundo, ele cai em questões interessantes sobre ganância e como precificar a arte em si. Até que ponto o lucro em cima dessas obras é necessário e "eticamente" correto? A maior parte dos personagens representam o "lado negro da força" enquanto poucos nos mostram que a motivação não deve ser única e exclusivamente o dinheiro.
O problema todo de Velvet Buzzsaw esta no roteiro que não consegue de forma nenhuma amarrar a história. São ideias incríveis, personagens incríveis, mortes incríveis e um clima incrível. Mas na hora de costurar tudo isso o filme não entrega um fio condutor muito coerente. Parecem ótimas ideias soltas no papel. Ele parece não saber dominar muito bem o gênero e apela para fórmulas óbvias e convencionais demais que quase tiram toda a força e charme que o filme tem de sobra. A história se expande de tal maneira que não sentimos a fluidez do tempo que passa entre alguns acontecimentos. Sem contar em algumas resoluções que caem do nada e cenas de investigação que parecem perdidas e não são levadas para frente.
As cenas de mortes desse slasher cômico são tensas e bem produzidas, ainda que caiam em alguns clichês que já estamos cansados. A parte final onde intercalam 3 personagens separados e seus desfechos consegue arrancar um friozinho na barriga, especialmente a parte de Gyllenhaal. Também com esse elenco brilhante fica complicado não olhar com bons olhos. É até difícil de pontuar quem se destaca mais. Jake Gyllenhaal, Rene Russo e Toni Collette são um trio com uma força rara de vermos por ai, ainda mais em um filme de terror. Muito legal ver grandes atores se arriscarem em filmes de gênero.
O retrato que o design de produção criou para o filme também não temos como botar defeitos. A ambientação, os cenários e especialmente as obras de arte. Me senti 100% convencido de estar no ambiente da arte moderna. Os quadros amaldiçoados que servem como o centro da história são lindos. Palmas para os artistas envolvidos que criaram todas as pinturas e esculturas que surgem na tela.
Em O Abutre o diretor brilhou. Aqui, ele tenta, mas se perde na empolgação de querer fazer algo muito descolado. Deveria ter se apegado mais na crítica em tom de humor e um slasher um pouco mais criativo. Só. Não precisava adicionar uma timeline grande que tenta nos contar muito sobre os personagens a fim de mostrar a transformação de cada um deles. Tentou fazer muito e no fim das contas não o fez. Como quando estamos empolgados para contar uma história e nos embolamos nos detalhes. No fim da conversa não conseguimos dizer nada e a "moral da história" fica sem a força que deveria ter.
Vale a pena ver para ver os atores se divertindo horrores com esses personagens deliciosos e ver algumas cenas de morte legais (a última é a melhor de todas). Não é perda de tempo. Mas tem coisa melhor por ai. Dan Gilroy se deu melhor no suspense.
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