Dirigido por Yen Tan
Ah esses pequenos grandes filmes. Ainda bem que eu fuço a fundo o cinema independente e volta e meia esbarro nessas coisas preciosas.
1985 tem proporções enormes no que diz respeito a importância de sua mensagem e as inúmeras reflexões que gera. E tudo feito da maneira mais simplória do mundo. Essa combinação volta e meia dá bons resultados. Basicamente a história se passa em poucos dias, no natal de 1985, onde um jovem homossexual volta para casa no feriado e tenta a todo custo se abrir com sua família super conservadora. Mas existem mais algumas camadas que vão além. Descubram passando por essa experiência.
Esse é um daqueles casos onde parece que o público alvo são os semelhantes do protagonista (a comunidade LGBTQI+) mas na realidade serve muito mais para os semelhantes da família (os conservadores). Serve como uma aposta para se enxergar o outro lado da moeda a fim dessas pessoas botarem a mão na consciência. Não que o filme carregue toda essa pretensão nas costas. Mas acaba o fazendo de maneira sutil e singela, quase que "sem querer querendo". Para nós, do "time" do jovem gay protagonista, só nos resta a identificação instantânea e os rios de lágrimas de compaixão. Esse é um daqueles que emociona com vontade.
Os atores cumprem todos seus papéis muito bem, mas o destaque vai para o protagonista, vivido por Cory Michael Smith. A sensação é de estarmos assistindo a um documentário, não apenas pela fotografia preto e branca, mas pela atuação voraz e verdadeira do ator. Sente-se verdade nas suas lágrimas e seu sofrimento velado. Na cena em que ele segura o choro o máximo que pode ao conversar com sua amiga, e antigo caso amoroso, é de cortar o coração. E ele consegue entregar essa emoção sem que a câmera foque em seu rosto, mas apenas na sua voz embargada e cheia de nervosismo. Uma determinada cena com a mãe, próxima ao final também nos pega de jeito, assim como os momentos finais, que envolvem um plot a mais que só enriquece a história.
A fotografia em preto e branco, como mencionei antes, tem um papel forte em entregar esse ar melancólico que a história pede. Um uso muito esperto da ausência de cor. O inverso poderia ter sido feito e caído no clichê ao remeter aos anos 80, colorido como sempre. Assim como a direção calma e contemplativa de pequenos espaços. É tudo bem claustrofóbico, e a calma da câmera quase sempre estática gera um desconforto maior ainda.
Filmaço que só não recebe nota máximo pois acho que perde algumas ótimas oportunidades de unir forças com a trilha sonora, que diga-se de passagem, é daquelas que arrepia, ajudando o clima triste do filme. Torcendo para uma Netflix da vida colocar esse filme no catálogo deles. O mundo merece - e agradece por - mais filmes assim. Por enquanto, a comunidade agrade por essa tentativa e este acerto.
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