Dirigido por Felix van Groeningen
Se você busca um filme feroz na sua abordagem do tema de vício em drogas, Beautiful Boy não é a melhor opção pra você. Vá assistir a Transpotting ou Requiem For A Dream. Mas não pense que Querido Menino, em português, é um filme light demais, porque não é.
Depois de muito tempo aguardando e vendo diversos reviews por ai, achava que iria me deparar com um filme "sessão da tarde" sobre o assunto. Que nada. A questão é que o foco não é tanto sobre explorar as drogas em si e seus efeitos, e sim em como o vício pode afetar não apenas a si próprio como a todos a sua volta. E aí ele brilha. Tudo está a seu favor aqui. A narrativa é contada sob o ponto de vista do pai, mas com algumas pinceladas no olhar da madrasta, da mãe e do próprio menino, vivido brilhantemente por Timothée Chalamet.
A montagem é extremamente imponente e mostra uma presença incrível. Poderia ter ficado cansativa mas só ajuda no dinamismo da história (o filme parece que tem 1 hora de duração) como no impacto que sentimos das emoções de constante desespero do pai. Os altos e baixos do vício intercalados com flashbacks rápidos são entrelaçados por cenas que sempre "entram uma nas outras". Os sons são fluídos nas transições então tudo parece muito bem amarrado, com uma estrutura confortável de se ver. Antes de uma cena terminar, o som da cena seguinte entra na mesma, causando uma sensação de falta de ar para respirar, assim como o personagem central se sente com as idas e vindas de seu filho às drogas. Ao longo de quase todo o filme também escutamos o barulho do mar ao fundo, nos trazendo sempre a ideia do desejo do pai de apenas voltar ao passado quando ele e seu filho iam surfar juntos. Todas essas sensações são transmitidas através da edição e da direção muito sagaz.
A música tem um papel forte também. A trilha sonora instrumental dá espaço a músicas pontuais e que entram quase como narrativas. Alguns acham um recurso cansativo e óbvio demais. Em alguns casos pode soar bobo, mas aqui ele acerta em cheio nas escolhas musicais e como nos conduzir emocionalmente através de imagem e som. Sem dúvida nenhum é um filme sensorial, assim como a metanfetamina que Nick é viciado. É um projeto muito bem pensado.
Timothée Chalamet e Steve Carrell sabem nos sugar para o mundinho que vivem e entregam performances dignas de premiações (ainda que tenham sido esnobados). Chalamet não cansa de interpretar da maneira mais visceral, sempre. E Carrell é um dos melhores exemplos de comediantes que entraram no drama para ficar. Os dois arrancam lágrimas do público com a maior facilidade. Isso acontece ao longo de todo o filme. Os dois em cena são de uma força incrível. Nada que o pai faça vai conseguir trazer o filho de volta. Só resta a ele se mostrar presente e disponível.
Com uma narrativa que beira a suavidade e a higienização, ainda que bastante intensa devido ao tema tão pesado e paupável, Beautiful Boy consegue nos puxar pelo braço e nos guiar direitinho em todas as suas emoções. A montanha russa de sentimentos é perfeitamente transmitida pelos atores, pela direção e pela montagem criativa. Um ótimo filme limpo que serve didaticamente como um alerta e mostra uma visão muito mais humana sobre como lidar com um problema tão complexo.
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