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🇸🇪 Border (2018) 🌕🌕🌕🌕

Foto do escritor: Bruno SantiagoBruno Santiago

Dirigido por Ali Abbasi


Mais um pra coleção de filmes europeus nórdicos extremamente bizarros. Border (Gräns, no original) se baseia no folclore dos países escandinavos para contar uma história fantástica que serve como uma alegoria para questões pertinentes desde sempre.


Uma mulher com um "distúrbio genético" possui o rosto com feições um pouco diferentes do comum. Ela trabalha como agente alfandegária no aeroporto e leva uma vida reclusa. Além de ser "diferente" na aparência, ela também tem um dom especial pois consegue farejar não somente coisas concretas como também sentimentos (em sua maioria ruins). Um instinto animal, podemos dizer. Um belo dia ela conhece um homem que possui as mesmas feições que ela e partir daí passa a se descobrir como pessoa e entender melhor o seu papel na sociedade e, principalmente, da onde ela vem.


Quando se mantém no campo de um filme mais reflexivo e crítico é que Border acerta mais. A grande metáfora às pessoas excluídas da sociedade em que se baseia funciona muito bem quando combinada ao tom fantástico e quase de conto de fadas dark que possui. Todo o processo de descoberta das origens da protagonista consegue nos levar a questionamentos humanos básicos, sem nunca perder o olhar crítico para a sociedade e como ela se comporta com o "diferente do normal". As vezes, o diretor trabalha isso apenas com olhares de desprezo de figurantes ao fundo das cenas ou reações que nos fazem colocar a mão na consciência. É sutil mas não menos impactante por isso. De toda a forma, o comentário social está lá, muito claro e evidente.


Quando a trama passa a focar mais na história fantástica criada, é que começa a se perder um pouco. Principalmente por uma coincidência muito grande em que toda essa história se baseia. É um pouco difícil de engolir isso quando a revelação é dada, ainda mais nesse universo criado, que mesmo se utilizando de recursos utópicos, possui um ar de veracidade e cotidiano bem fortes. Cabia uma elaboração melhor na maneira que a história é amarrada. Porém, passada essa questão o filme consegue criar uma unidade narrativa muito boa. Outro problema do roteiro é a utilização de exposição em excesso, logo no meio do filme, quando uma revelação é feita e passamos a entender um pouco mais do que aquilo tudo se trata. Poderia ter sido um pouco mais fluído e entregue aos poucos, assim como o filme vinha seguindo até então. Entregam o ouro de mãos beijadas e antes do tempo.


Em termos técnicos, Border mereceu muito a indicação ao Oscar de melhor maquiagem (arrisco dizer que merecia mais o prêmio do que Vice). É simplesmente perfeita e não conseguimos enxergar a maquiagem em si. Além do que, o desafio era imenso tamanha complexidade do queriam alcançar. Existem cenas simplesmente grotescas e animalescas de sexo, que combinam maquiagem, atuação e alguns tímidos e eficientes efeitos especiais que são memoráveis. Além de um pequeno "ser" que aparece na parte final do filme que dá vontade de não olhar para a tela de tão chocante e incomoda que é a imagem. Talvez esse quesito seja o grande destaque do filme.


Border é um bom filme, contemplativo e competente, que entrega um conto que nos remete à nossa realidade atual e gera um bom debate sobre. Só perde um pouco da potência ao tentar se auto-explicar e auto-justificar demais para o público. É difícil colocar esse filme em um gênero só, então o classifico com um drama com toques de suspense e terror.




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