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🇫🇷 Climax (2018) 🌕🌕🌕🌕🌕

Foto do escritor: Bruno SantiagoBruno Santiago

Dirigido por Gaspar Noé


Gaspar Noé sempre possui uma vitalidade de iniciante em todos seus filmes. A sede que ele tem de experimentar coisas novas e de criar arte, transborda pela tela e contagia quem assiste e está aberto a se entregar às suas experiências sensoriais. Climax é talvez o exemplo mais acessível para quem ainda não conhece a obra dele. E por incrível que pareça, o seu melhor até então.


Como que em um estalar de dedos, quando surge a primeira cena do filme você se pega imerso, do primeiro segundo ao último. Noé não só cria uma narrativa que capta sua atenção mas adiciona elementos gráficos, como os créditos de trás para frente e o foco nas bandas que tocam no filme em um momento escolhido a dedo, em total sincronia com a música que toca, que criam toda a diferença. Ele sabe dividir muito bem os momentos do filme ainda que possuam uma fluidez enorme na forma como os personagens vão mergulhando nessa loucura toda.


Supostamente baseado em fatos reais, o filme mostra um grupo de jovens dançarinos em uma festa de comemoração pós último ensaio, em uma casa distante de tudo. Tudo que sabemos é que alguém colocou alguma droga alucinógena na sangria e começa um surto psicótico coletivo que chega a graves consequências.


Intenso como seus outros filmes, a história por si só já diz o que podemos esperar. Mas o diretor pega muito mais leve aqui em termos de sexo e violência do que em Irreversível e Enter The Void, por exemplo. Por isso é um bom cartão de visitas para o seu tipo de cinema. Ele e Lars Von Trier conversam bastante na questão da linguagem e na força gráfica que seus filmes possuem. Mas eu sou team Gaspar Noé pois ele não tem a carga prepotente que Lars sempre coloca em seus filmes. Tudo parece genuíno aqui.


A começar pelo fato de que quando começaram a filmar só existia 5 páginas de roteiro. Basicamente tudo é improviso. E exceto pela "protagonista", Sofia Boutella (que antes de se tornar atriz era dançarina), todo o elenco é composto por dançarinos de verdade, estreantes no cinema. Ou seja, o que você vê, é o que é. Todos são extremamente convincentes e se jogam nesse projeto experimental.


A apresentação dos personagens é sublime. Primeiro vemos como se fossem fitas de inscrição de cada um deles falando um pouco (e o necessário) para entendermos sobre suas personalidades. Depois disso entramos em um plano sequência que, através da dança, consegue entregar e reforçar quem são cada um desses personagens. A cena é divinamente contagiante. Depois disso, vamos para planos fechados de diálogos em duplas entre eles e assim começamos a sacar quais as suas relações e os possíveis futuros subplots. Nessa hora ele mostra uma de suas assinaturas, com algumas "piscadas" na tela (coisa que ele sempre usa em seus filmes) como que na tentativa de nos hipnotizar de alguma forma. E de um jeito bem subjetivo, funciona. Até que chegamos no grande espetáculo, um longo (e fake) plano sequência que vai passando a bola de personagem para personagem ao longo desse espaço e mostra como eles vão entrando nesse insanidade coletiva. Isso até o fim.


A direção, muito parecida com um dos seus filmes anteriores, Enter The Void, é criativa e nos conduz nessa viagem psicodélica. A câmera é quase uma extensão da nossa mente e nos faz nos sentir incomodados e hipnotizados. Em determinado momento ficamos rodando de ponta a cabeça. Pode causar náuseas aos mais fracos. A música está 100% do tempo presente e é de muito bom gosto. Nunca cansa, mas incomoda, propositalmente. Não temos respiro. O design de som é perfeito pois a gente se sente dentre dessa pista de dança o tempo todo, e quando os personagens caminham para outros ambientes, a música continua no fundo, abafada. Assim como gritos e choros. Tudo é muito bem desenhado. Vemos essa história de dentro, como se fossemos um personagem andando pelo local. É simplesmente impossível alguém dizer que não se sentiu ali dentro.


Na primeira parte, das entrevista, vemos algumas fitas VHS do lado da televisão. Essas fitas são de filmes clássicos que são homenageados ao longo de Climax. Então servem como um anúncio do que está por vir. As cores fortes, principalmente o vermelho na parte final, remetem a Suspiria, as expressões corporais de alguns dançarinos sob o efeito de LSD trazem uma menção mais abstrata, porém direta, de Zombie e todo o delírio que eles desenvolvem, conversa muito com Possession. Existe uma homenagem escancarada à esse último, com um surto de uma das dançarinas no qual ela se debate e grita, relembrando a clássica cena de Isabelle Adjani. Incomoda do mesmo jeito.


Deliciosamente difícil de assistir, Climax nos dá a sensação de sairmos sujos do cinema. Ficou na minha cabeça por um dia inteiro após a assistida. Fui dormir incomodado. Mas estranhamente e incoerentemente, quero me sujar nesse filme de novo e de novo, diferente de seus filmes anteriores que são mais difíceis e não nos fazem querer voltar. Considero essa, uma experiência audiovisual, sensorial, expressionista pós moderna. Uma das melhores que tive no cinema de 2018. Sem sobra de dúvidas deveria estar exposto no museu imaginário de cinema mundial. As duas conclusões após o filme foram: quero ser dançarino e nunca vou LSD na vida. Fanboy de Gaspar Noé e da produtora A24, não tinha como ser diferente.



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1 Comment


Igor Gomes De Araújo
Igor Gomes De Araújo
Feb 15, 2019

Uma das experiências mais loucas foi assistir esse filme!Baixei toda a playlist no Spotify!


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