Dirigido por Pawel Pawlikowski
Cold War é que vem representando a Polônia na corrida pelo Oscar. Tudo indica que vai ser um dos indicados. Ainda não vi todos os pré-finalistas, mas a princípio esse merece.
Também em preto e branco, assim como Roma, esse filme polonês nos brinda com uma fotografia lindíssima. Chega perto de Roma nesse quesito. Novamente, cada plano é um quadro. O branco, as vezes estourado, causa um belo efeito em algumas cenas. O design de produção super fiel a época também tem sua força na criação dessas imagens lindíssimas.
A trilha sonora tem um papel de destaque aqui pois o filme praticamente se baseia nela. Uma cantora entra para um grupo de canto folclórico da Polônia e começa a se envolver com o maestro/músico/mentor da companhia. Acompanhamos esse romance por no mínimo 10 anos, entre suas idas e vindas. As cenas em que a protagonista canta são excepcionais. Os movimentos de câmera e os enquadramentos elegantes ajudam a criar a harmonia necessária com os cantos típicos. Essa dualidade é bem utilizada. Uma música específica vai mudando ao longo do tempo e ganhando novas versões, todas interpretadas pela atriz principal. Tudo isso conforme o estilo musical do casal vai se adequando a suas novas realidades e novas vidas. Alguns momentos lembram até a famosa cena de Shame, de Steve McQueen, onde Carey Mulligan performa New York, New York.
A forma como o diretor, e roteirista, opta por contar essa história é, ao mesmo tempo, a maior força e a maior fraqueza do filme. Milimetricamente episódico, o filme tem cortes abruptos para indicar a passagem de tempo. Então praticamente só vemos os acontecimentos chaves de cada ano que vão conduzindo esse romance. Isso dá dinamicidade para o filme e o tira do campo de "filmes parados", que é um dos problemas que o público comum tem com Roma, de Alfonso Cuarón.
E como um bom pano de fundo, temos a Guerra Fria, que dividia o mundo nessa época. Esse backgroud ajuda a organizar e orquestrar a história. Assim como os diferentes ideias políticos (comunismo vs capitalismo), a coexistência do casal se torna impossível. São pólos diferentes. Personalidades completamente opostas. Mas o amor os força a tentar se unir sempre. O famoso amor cego, que não entende que não é o suficiente as vezes. Eles não conseguem ficar separados. E também não conseguem ficar juntos. E é nessa premissa que o filme se auto sabota.
Com um final shakespeariano, que caí do céu, Cold War perde sua força devido ao seu estilo proposto e a curta duração de tempo do filme, apenas 1h28. Precisava de mais tempo para a própria história nos provar que as escolhas finais não foram precipitadas, e sim vistas como a única solução. Não parece crível se analisarmos que as tentativas de ficarem juntos foram poucas ao longo do filme. Ainda mais considerando o que de fato é o final.
Guerra Fria é lindíssimo visualmente, com uma trilha sonora forte, atuações com uma super presença, especialmente a de Joanna Kulig, mas que sofre em seus minutos finais com uma correria que não nos convence e nos afasta emocionalmente da história. É difícil para o público criar laços com os personagens com esse tipo de "storytelling". Se ao menos não tivéssemos uma conclusão tão repentina, quem sabe esse se tornaria o favorito na categoria filme estrangeiro.
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