Dirigido por Luis Ortega
Esse filme argentino tem um problema logo de cara que pode ser considerado um grande fator negativo na visão geral. É uma biografia sobre um serial killer argentino real dos anos 70. Só que essa biografia é contada nos moldes de Tarantino, o que acaba humanizando e gerando uma enorme empatia do público com o personagem principal. Ou seja, rola uma irresponsabilidade nesse sentido. Mas independente desse valor "moral", o filme é ótimo.
O estilo Almodóvar que a história é contada funciona muito bem. Closes nas bocas, nos corpos, algumas câmeras lentas e contemplações cheias de luxúria funcionam muito bem nessa storytelling. As cores fortes e contrastantes retratam muito bem a época, assim como todo o figurino e o design de produção. A qualidade da imagem em si é muito viva e colorida.
O ator que faz o protagonista, estreante que nunca fez sequer um curta na vida, está excelente no papel e entrega uma personagem sexy e envolvente ainda que passe uma imaturidade em seu comportamento sociopata. É uma explicação competente de como ele conseguia envolver suas vítimas e comparsas, mas ao mesmo tempo arrepia em como ele usava isso ao seu favor. A cena inicial dele dançando sozinho em uma casa que acabou de invadir é linda e sensual na medida certa. O discurso de que ele não acredita que as coisas materiais devam pertencer exclusivamente à uma determinada pessoa mostra uma deturpação de de um ideal comunista, o que explica muito sobre a mente desse psicopata. O fato da sua sexualidade nunca ser explorada também possui um papel grande em sua resposta em como lidar com esses desejos retraídos e silenciados internamente e por consequência como ele externaliza isso. Me lembrou muito outro serial killer americano famoso, Jeffrey Dahmer, que já ganhou dois filmes (valem a pena serem vistos) à respeito da sua trajetória.
O roteiro também é bastante redondinho e mostra de forma destrinchada o caminho percorrido pelo bandido/assassino. As cenas mais pesadas são suavizadas com um certo humor e uma estética limpa o que, de novo, pode ser perigoso no que diz respeito a realidade, mas como cinema é uma bela conquista.
Eu recomendaria esse filme, com a ressalva de que se fosse um personagem fictício poderia ter um reconhecimento e um valor ético mais alto.
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