Dirigido por Ari Aster
Recomendo não assistirem o trailer, que é ótimo por sinal, pois por mais que não entregue muito sobre o filme, ainda assim mostra um pouco mais do que deveria.
Assisti esse filme ontem a noite e ainda o estou digerindo, aos pouquinhos. É extremamente carregado, pesado e te deixa se sentindo sujo e após a sessão. O filme tem momentos brutais, alguns “apelando” para a violência gráfica e outros apenas sugerindo. Aliás, ai que o diretor, em sua estréia, mostra seu talento. Ele sabe direitinho quando mostrar e quando sugerir, fazendo o público trabalhar com a imaginação. As vezes isso é muito mais forte do que ver sangue e tripas para todos os lados. O plot twist logo no final do primeiro ato é uma das coisas mais impactantes que vi nos últimos tempos no cinema. Um tapa na cara de tirar o fôlego, real.
Toda a história é conduzida de maneira convincente, paciente e assustadora. Não espere jump scares aqui (não tem NENHUM). Não espere clichês fáceis. Não espere o convencional. Apesar de não ser algo nunca antes visto, a inovação vai para a maneira como ele conta essa história. O desenrolar da coisa toda (mérito do roteiro) e a maneira como o diretor elabora as cenas de terror, especialmente no terceiro ato e toda a sequência final, que realmente gritam criatividade. Sabe aquela coisa de no cantinho do plano você acha que ta vendo algo no escuro mas não tem certeza e precisa acostumar o olho no escuro para entender? É isso! E ele prolonga as cenas o máximo que pode, aumentando ainda mais esse senso de desconforto. Seja em cenas sutilmente arrepiantes ou em cenas bastante gráficas. Fui dormir com um certo desconforto ontem, martelando algumas “aparições” do filme na minha cabeça que realmente me desconsertaram.
E não tem como não falar no elenco. Toni Collette é uma força indomável em Hereditário. Sempre achei a atriz fantástica e aqui ela prova isso em um dos seus melhores trabalhos. Já me antecipo e acho injusto não indicarem ela a um Oscar. Alex Wolff, que interpreta o filho, entrega uma carga emocional super intensa em todas as suas cenas, que são sempre longas e exploram ao máximo suas reações de pânico e medo. Não deve ter sido fácil, e ele fez super jus ao papel.
A trilha sonora tem um papel tão fundamental nesse filme quanto os personagens. Ela complementa a ideia de inquietação que o filme traz. Na última sequência (alucinante diga-se de passagem) a música encontra seu brilho final, arrepiando todos os pêlos do corpo.
O uso da maquete no conceito do filme é muito bem explorado também. Não só é esteticamente lindo, como conversa diretamente com o roteiro do filme, sempre se relacionando com as emoções da personagem principal e dizendo muito, nas entrelinhas, sobre o que estamos vendo. Aí também que entra talvez os únicos micro pontos negativos do filme. Em um ou dois momentos o roteiro cai no erro de “querer se fazer entender” e explicar até demais para o publico, o que tira um pouco o mistério e a sugestão, que vinha sendo tão bem equilibrada ao longo do filme. Mas isso passa tão batido frente à imersão que ele conquistou em sua primeira 1h30 de filme, que é perdoável. Se você quer algo mastigadinho, vá assistir Selfie Para o Inferno.
Medo é subjetivo e muita gente não vai achar Hereditário assustador. Mas esse tipo de terror inteligente, que recicla os verdadeiros bons clássicos (The Changeling e The Innocents vibes) e não uma fórmula comum super explorada hoje em dia, que realmente merece destaque. Independentemente se você vai ou não se assustar, Hereditary é excelente filme de terror. Ponto final. É muito mais acessível, por exemplo, do que A Bruxa e Ao Cair da Noite, ambos da A24. Mas mesmo possuindo uma roupagem mais comercial do que os anteriores, o filme entrega um produto final de terror na sua mais pura essência.
Se Ari Aster começou fazendo isso, mal posso esperar pelo que vem por ai. Um diretor/roteirista focado, atualizado, original, antenado e brilhantemente inspirado. Invocação do Mal who!? James Wan tomou um baile pelo estreante aqui. Por enquanto, o melhor terror do ano, fácil. Aguardemos o novo Suspiria.
A24, te amo!
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