Dirigido por Carlos Diegues
Esse ano tivemos ótimos filmes brasileiros no cinema como O Animal Cordial e Benzinho, por exemplo. Só que resolveram escolher O Grande Circo Místico pra representar o Brasil na corrida por uma das 5 vagas no Oscar de filme estrangeiro. Oi?
Eu posso passar dias falando o quão ruim é esse filme pois de bom mesmo só temos a fotografia, muito bonita, o design de produção/arte/figurino que é muito bem cuidado e Jesuíta Barbosa. Acho que só.
Pra começar cito a carga de machismo e misoginia que esse filme carrega. Cacá Diegues parece parado no tempo pois tenta, por diversas vezes, romantizar estupro, incesto e prostituição de forma grotesca e completamente insana, ainda mais se compararmos com o momento atual. Uma mulher que é abusada pelo marido mas continua o amando e morre no meio do ato sexual com uma expressão de prazer e uma mãe que vende as filhas para um velho no meio da rua, e elas gostam (!!), sem a menor explicação ou coerência com nada, são os dois maiores exemplos disso. A cena final também, excessivamente longa de duas mulheres nuas dançando e a câmera lenta viajando por seus corpos, parece não terminar nunca, e nada nos diz. Isso sim é nudez gratuita. Dá vergonha. Não existe nenhuma personagem feminina forte aqui ou que pelo menos tenha essa conquista ao longo do filme. Só uma, em especial, que tem literalmente dois minutos de cena (e por incrível que pareça da o nome ao segmento, outra incoerência desse roteiro perdido).
Agora falando do roteiro. É basicamente um filme com 5 histórias, em épocas diferentes, todas dentro da mesma família que vivem do circo. Só que o tanto que poderiam ter explorado mais o fator "circo" não dá para mencionar. Percebe-se que o diretor se esforçou para entregar um clima meio Jodorowsky com o seu Santa Sangre e até no seu mais recente A Dança da Realidade, só que o produto final ficou uma colcha de retalhos de idéias soltas e desconexas com inspirações rasas. É tudo muito rápido, personagens entram e saem das histórias com a maior facilidade e sem a menor explicação. Ninguém é devidamente desenvolvido, não entendemos suas motivações, medos, desejos. Nada. É um roteiro pobre e mal feito. Poderiam muito bem ter esmiuçado mais as relações interpessoais dos personagens a fim de uma compreensão maior de cada uma das histórias. Na última história, cai do céu um interesse de determinada personagem pela história da sua família, mas que nunca, sequer, foi mencionado antes, na tentativa de costurar o filme com a história inicial. Tarde demais. O melhor segmento é o de Juliano Cazarré, pois combina uma bela técnica em uma cena de passagem de tempo com uma história com mais coerência e um pouco mais redonda, e ainda assim com elementos surreais no meio. Mas logo em seguida o filme te perde de novo. Cacá Diegues parece querer ao máximo explorar cenas musicais contemplativas em excesso máximo e com canções chatas ao cubo (daquelas que tocam na sala de espera do dentista). Não dá para acreditar conforme os minutos vão passando.
As atuações também são difíceis de engolir, e olha que tem um elenco de peso. Vincent Cassel, um excelente ator francês, passa vergonha aqui com alguns diálogos super expositivos e mal elaborados, só para ficar claro o quão malvado ele é. Soa patético e desrespeitoso com o público essa falta de inspiração. Alguns atores desconhecidos também possuem destaque e eu realmente não sei quem fez esse casting. Não tinha ninguém melhor?! MESMO? Jesuíta Barbosa e Juliano Cazarré são os dois pontos fortes do filme e que geram algum tipo de interesse. Isso apesar do único fato místico ser representado por Jesuíta e isso nunca ficar muito claro. É simplesmente um homem atemporal, e devemos engolir isso.
Algumas dublagens são péssimas e inacreditáveis, pois os personagens não abrem a boca e o som sai mesmo assim. É amador demais! Talvez exista uma grandiosidade e uma poesia nas entrelinhas que eu realmente não tenha conseguido compreender. Foi um filme que se perdeu em sua tentativa de grandiosidade e que ganharia muito mais se tivesse duas horas e meia de duração mas com um fio condutor nesse roteiro cheio de cenas soltas, avulsas e corridas. Mas com o "razoável" (modéstia à parte) conhecimento que tenho de cinema, O Grande Circo Místico me pareceu um filme ofensivo, vazio, pretensioso da pior maneira possível e simplesmente ruim. Saí do cinema com vergonha por tudo que tinha acabado de ver e com um mal estar de ter tido uma experiência tão fraca de um diretor brasileiro tão renomado. Não, não foi "a proposta que é diferente". David Lynch, Alejandro Jodorowsky, Gaspar Noe, Nicolas Winding Refn tem propostas diferentes. Cacá Diegues não.
Não foi a toa que foi vaiado pelos festivais que passou mundo a fora. Apenas muito ruim.
Não vi o filme mas consigo imaginar o quão ruim é. Eu sempre sou muito crítica e raramente exalto o lado bom das coisas. Mas vc! Vc sempre vê alguma "Silver lining" nas coisas mais horriveis! Parabéns pela honestidade e por ser um pouco "jaded"! Gostei!