Dirigido por Yorgos Lanthimos
Se pegarmos a filmografia do Yorgos Lanthimos, A Favorita é o filme que mais destoa de todo o resto. Ainda que com suas pitadas nonsense, aqui ele segue uma linguagem mais realista.
Para começar o filme é todo baseado nas interpretações dignas de muito alvoroço desse trio. As três brilham em todas as falas e ações. Souberam dosar perfeitamente o estilo do diretor com uma certa falta de emoção, mas ao mesmo tempo transbordam reações viscerais em algumas cenas. Tudo de muito bom gosto e muito preciso. Olivia Colman construiu uma rainha perfeita, cheia de nuances com seus graves problemas psicológicos e de saúde. Não é um filme para chorar, mas me peguei emocionado em duas cenas específicas em que nos sentimos incomodados com o abuso e abandono que essa mulher sofre. O lado cômico da loucura dessa mulher se transforma num olhar mais empático à seu respeito. Emma Stone esta em seu melhor papel até hoje e tem talvez o arco mais explícito e catártico das três. E Rachel Weisz tem uma tímida faísca que sempre apresenta em qualquer trabalho que faz que casa perfeitamente com o tom do filme.
É um filme sujo e ao mesmo tempo estiloso. Os diversos planos com lente olho de peixe e movimentos secos, mesmo que não necessariamente integrados com a história em si, são pertinentes visualmente. Deixam todo o mise-en-scène mais bonito e agradável de se assistir. Yorgos optou por usar luz natural, e todas as cenas no escuro são de fato iluminadas por luz de velas. Não só traz uma realidade maior como o resultado estético fica lindo. Uma precariedade intencional que funcionou brilhantemente. Aí somam-se os cenários e os figurinos riquíssimos em detalhes e pronto, você tem um filme que enche os olhos de qualquer um.
A trilha sonora incessante de poucas notas em determinadas cenas ajuda a criar toda a tensão necessária. É capaz de arrepiar tamanho incomodo e apreensão que sentimos ao longo do filme. A jornada de cada personagem é super intensa e nos faz questionar a todo o tempo onde essa trama de luta pelo poder vai chegar. O final carimba todo o clima sujo e carregado do filme. Triste e intenso, pode soar ruim para quem espera algo mais redondo. Mas a mensagem é passada de forma bem clara, inclusive.
The Favourite é mais um filmaço desse diretor grego. Sutilmente vendido para Hollywood aqui, em uma clara tentativa de conquistar esse espaço na indústria, Lanthimos perde um pouquinho de seu brilho autoral, muito presente em todos os seus trabalhos anteriores. O gostinho que fica é de um espetáculo audiovisual de um diretor que mesmo tentando pertencer à patotinha, sabe se impor e não perde seu valor artístico. E com a ajuda dessas três atrizes de alto escalão, não tinha como sair algo ruim. Os fãs mais hardcore de seu estilo nada convencional podem ficar desapontados mas é inegável a qualidade grandiosa em todos os quesitos que fazem esse filme ser um dos melhores do ano.
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