Dirigido por Jennifer Fox
Esse é um filme baseado em fatos reais que aconteceram com a própria diretora. Se passa em um momento de sua vida em que lembranças de um passado de abuso infantil vem à tona enquanto ela produz um documentário. Laura Dern encarna Jennifer Fox e não poderia ser uma escolha melhor.
A montagem do filme talvez seja um dos grandes trunfos. A lembranças de seu passado são desvendadas aos poucos. Entramos na cabeça da protagonista e conseguimos sentir claramente as confusões e jogos mentais que a nossa memória sempre nos dá. Volta e meia lembramos de forma turva de alguma coisa do nosso passado e não temos certeza se foi exatamente daquele jeito. As vezes quando alguém nos dá uma pista de como realmente aconteceu, nós revisitamos aquele momento em nossas mentes, corrigindo algumas questões que antes eram diferentes. O filme incorpora esse processo da memória de um jeito muito criativo e eficaz. No começo Jennifer lembra desse passado como se tivesse uma aparência mais madura e adulta. Depois de olhar uma foto sua com aquela idade, 13 anos, é que vemos que ela era bem mais nova, e partir daí as cenas acontecem de novo, com a nova atriz mais jovem, passando a bola para o início de uma história carregada. Muito bem pensado.
A história em si é extremamente chocante e nos mostra alguns detalhes que podem ser fortes para alguns. Essas cenas, de pedofilia no caso, incomodam mas não conseguem ir muito além pois fica claro, através de movimentos e posicionamentos de câmera que se trata de uma dublê de corpo. Poderia ter sido menos amador e um pouco mais bem pensado, assim teríamos uma porrada na cara mais forte. Mas mesmo assim não deixa de ser pesado o tema tratado. O roteiro começa leve e inocente, e vai entrando em um campo desconfortável e intenso até chegar na final cena catártica, ainda que contida. Essa cena brilha mais pela atuação ferozmente tímida de Laura Dern.
Laura brilha em qualquer coisa que faz e ainda acho que merece ainda o papel de sua carreira. Aqui ela quase conquista isso entregando uma pessoa muito paupável e de alguma forma machucada por um passado não muito claro. Aliás também merecem destaque France Conroy e Elizabeth Debicki, interpretando a versão mais velha e mais nova, respectivamente, da mesma personagem. As duas hipnotizam em todas as cenas que aparecem. Especialmente quando um dos mais fortes plot twists entra em ação.
Um filme muito sincero, com um tom de fantasia em seu início e que vai ficando cada vez mais obscuro. Difícil não se pegar dentro da história e sentir o peso que a personagem central vai sentindo aos poucos. Só falta um pouco de verdade no que diz respeito à técnica ao contar essa história. Merecia uma pegada mais cinematográfica e não tão novelesca.
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