Dirigido por Myroslav Slaboshpytskyi
Daí você chega numa sexta feira a noite e resolve meter o louco e assistir a um filme ucraniano, todo em linguagem de sinais, sem legenda. E o resultado? Um filmaço! Eu amo essas experiências diferentes que o cinema pode proporcionar pra gente. Mas não sou o chato metido a cult que fala mal do mainstream (estou LOUCO pra ver Os Vingadores). Mas voltando a The Tribe, esse filme se passa num internato em um local meio ermo e caindo aos pedaços. A gente acompanha a vida de um menino, recém chegado ao colégio e como ele faz para se virar com todos aqueles personagens detestáveis. E não tem como não se sentir meio sujo depois que o filme acaba. A violência não está só na porradaria, mas o filme trata de mostrar bem como essa “comunidade” surda-muda vive à margem da sociedade, quase abandonados, e isso gera toda a crueldade na forma que eles funcionam. O que por si só já gera uma belíssima metáfora, não é mesmo? Tem cenas e momentos do filme que são tão chocantes e incomodas (nível a cena do extintor e do estupro de Irreversível) que quase tive que olhar para o lado. Uma em especial, onde um aborto clandestino feito por uma mulher extremamente grosseira, num apartamento capenga, que meu deus! Todas as cenas do filme são longos planos sequência e todas orquestradas brilhantemente. A fotografia do filme e os movimentos de câmera são tão bons que dá gosto de ver como o filme foi bem pensado antes de ser feito. E a principal proposta do filme, que é mostrar o dia a dia de um colégio interno para pessoas surdas-mudas, onde todos se comunicam por linguagem de sinais e essas interações não possuem legenda para o público, funciona MUITO bem. Nos primeiros minutos causa um estranhamento, não ouvirmos nada além dos barulhos “naturais” de cena. Nem trilha sonora tem aqui. Mas depois que entramos na história, realmente choca como o diretor consegue captar nossa atenção, nosso interesse e principalmente nossa compreensão sobre tudo que está rolando através dessa imersão num mundo totalmente diferente. Enfim, um filme incômodo, no melhor dos sentidos, com um final brutal (MESMO), marcado por uma idéia ousada e extremamente original. Muitas e muitas palmas pra Ucrânia. Gostei muito mais disso do que uma festa qualquer numa sexta feira a noite.
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