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🇺🇸 Vox Lux (2018) 🌕🌕🌕🌕🌗

Foto do escritor: Bruno SantiagoBruno Santiago

Dirigido por Brady Corbet


Vox Lux é o novo filme da Natalie Portman e só por isso já vale assistir. Em uma primeira assistida causa estranhamento com o seu final abrupto. Mas é daqueles que vai crescendo na gente conforme vamos pensando a respeito depois.

Uma sobrevivente de um atentado em sua escola se torna uma nova pop star com apenas 14 anos. Em resumo é isso. O filme une dois temas aparentemente distintos e cria tantos paralelos que são lentamente digeridos pelo público. Não existe muito uma justificativa para colocar “school shooting” e o universo carregado e corruptivo da fama, a não ser incrementar mais a personagem central. Mas no fim das contas eles se complementam. Em determinado momento a protagonista, em uma entrevista, diz que existe uma vontade desses atiradores em se tornarem celebridades, e bem ou mal, sempre conseguem seus 5 minutos de fama. Mas vai além disso. Toda a espetacularização da violência que gira em torno desses casos acaba sendo extremamente danosa para toda a sociedade. O filme também trata de como essas experiências, que hoje em dia já se tornaram comuns, podem afetar a vida de uma jovem adolescente, mesmo que aparentemente ela tenha “vencido na vida” e “superado”. Ou seja, são gravíssimos os efeitos colaterais, sim, e isso não pode cair no campo da normalidade apesar de ser recorrente.

Somado a isso colocamos Celeste descobrindo a fama e tudo que vem junto dela. Toda a pressão psicológica, os abusos, as drogas e o álcool. Não são todos que aguentam tudo isso. É nítido que o filme se inspira em casos como Britney Spears e Justin Bieber. Sem contar vários detalhes que pegaram de outras divas do pop atuais como Katy Perry e seus autotunes, Madona e seu jeito de se vestir nos anos 80 e questões de dependência química de Demi Lovato. Existe uma leve inspiração na Lady Gaga também. Tudo isso é jogado no liquidificador e misturado para a construção de Natalie Portman, que faz a segunda parte do filme mostrando um único dia de Celeste no futuro. Uma cantora que já entrou em decadência e está tentando voltar ao estrelato. Fala-se (e mostra-se na parte final) muito sobre o fato de apesar do declínio pessoal e artístico de um ídolo desses, o público ainda consumir e seguir fielmente sua arte (ou falta de).

Na primeira parte do filme, acompanhamos Celeste em sua ascensão no mundo pop. E através de muitos elementos vemos o início dessa autodestruição, fato confirmado no futuro. O que a falta de de privacidade na vida de uma menina nova afeta muito a sua mentalidade.

Essa autodestruição pessoal também pode ser relacionada à autodestruição de toda uma sociedade que se alimenta de violência e sensacionalismo. E o ciclo que se cria a partir disso, evidenciado no segundo caso de ataque com armas de fogo do filme. O que gera o que? Quais a referências e influências dessas pessoas? Qual o preço da fama pela fama? É notável, de maneira sútil, como Celeste lidou com esse trauma e inconscientemente incorporou algumas característica de seu colega de classe atirador. A maquiagem que se torna sua assinatura muito similar à de seu algoz. A atração pelo mundo do rock, ao se envolver com um rockeiro e depois o contar que ele faz o mesmo tipo de música que o “terrorista”. Ao se vestir como uma “rockstar” no dia a dia. Tá tudo ali. Todas as referências que fogem de sua intenção.

Natalie Portman faz um retrato dessa pessoa quebrada, de diversas formas, perfeito. Ela adiciona trejeitos na fala e nos movimentos. O tempo todo ela se alonga em resposta à bala alojada em sua coluna. Realmente Portman some. Só vemos Celeste. E não uma atriz fazendo um ótimo papel. OSCAR JÁ!

A direção é super especial e autoral. Ele não tem medo de surpreender o público e levar o filme para caminhos inesperados. Vi uma entrevista em que ele diz que hoje em dia maior parte dos filmes que assiste ele já sabe o caminho que vai seguir desde o início. Aqui, ele fez um ótimo trabalho em fugir disso. A narração é uma cerejinha no bolo e que causa a sensação de fábula obscura que o filme possui. A trilha sonora instrumental é linda e assombrosa ao mesmo tempo. Arrepia. Ainda mais quando entram os créditos iniciais (amo letterings de títulos de filmes e aqui ele inverte totalmente a expectativa).

Dizem que as letras das músicas cantadas no show no final dizem muito a respeito da psicologia da personagem. A sessão que assisti não tinha legendas e era difícil entender por causa do autotune. Preciso assistir uma segunda vez para sentir esse soco no estômago que dizem ser.

Enfim, um filmão que jamais será para agradar o público comum que espera uma história convencional com início, meio e fim. Se você está disposto a ver uma estudo sobre personagem com ótimas atuações e um clima “on point”, veja Vox Lux.



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